segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Da Astúcia de Ulisses


A Odisséia é um conjunto de poemas épicos escritos provavelmente no fim do século VIII a.C., atribuídos ao poeta grego Homero, que descreve o retorno do herói grego Ulisses à Ítaca, após a sua participação na lendária Guerra de Tróia, que durou cerca de 10 anos. O que deveria ser uma tranquila viagem a sua casa se transformou numa nova aventura repleta de sucessivos desafios, em que figuras míticas, emoções e desejos humanos se misturam e criam um ambiente único, no qual ciclopes, deuses do Olimpo, ninfas, homens e diversas histórias se interligam e acentuam mudanças, porém não linear, mas transitória, como um trirreme grego a navegar no Mediterrâneo, guardando consigo experiências singulares, nos embarques e desembarques da vida. E é aí que entra um blog do qual gosto muito de ler.
O próprio nome já diz muito a seu respeito: "A Astúcia de Ullisses". Escrito de modo ininterrupto pelo professor de história da UFPE, Antonio Paulo Rezende, o blog abrange inúmeros temas. Não há uma seletividade quanto aos assuntos, mas uma linha lógica que perpassa todas as suas postagens. Temas ditos acadêmicos se misturam com os do cotidiano, política, história, capitalismo, imaginário, música, futebol, literatura, afetividade, memória, cultura, filmes, cidade e etc., tudo está num auto sistema de desorganização/organização, acentuando a ideia de Edgar Morin. Na Odisséia, o mesmo mar que pode levar Ulisses a sua amada, é, também, o obstáculo de seu regresso. Marcado pela ambiguidade, ele é imensidão, labirinto móvel: não se pode deixar à deriva. É necessário experiência e determinação, e onde melhor lugar do que o mar?
Em Yi-fu Tuan (1983) busco a ideia de que lugar começa como espaço indiferenciado, quer dizer, à medida que nos familiarizamos com um espaço, este, por sua vez, se torna lugar. Essa justaposição é mediada por nossa experiência, pois "a partir da segurança e estabilidade do lugar estamos cientes da amplitidão, da liberdade e da ameaça do espaço e vice-versa" (TUAN, 1983, 6 p.). Para ele experiências são diferentes maneiras através das quais uma pessoa conhece e constrói a realidade (1983).
Nesse sentido, Ulisses é o seu próprio norte comum. Sua astúcia reside nesse diálogo com a incerteza. Sabe que alguns deuses, como Poseidon, conspiram contra ele. O blog, também, tem consciência da imprevisibilidade do futuro, das armadilhas do acaso e dos deslocamentos que podem proporcionar. Embora não mais acredite na Conspiração, ou nos deuses, sereias, ninfas, ciclopes, tem consciência dos desafios que lhe são impostos, e da insígnia que lhe atribuem como produtor de não-história.
Acredito que a epopéia de Homero está para a Sinfonia n.9 http://www.youtube.com/watch?v=YAOTCtW9v0MHYPERLINK "http://www.youtube.com/watch?v=YAOTCtW9v0M&feature=relatedassim"&HYPERLINK "http://www.youtube.com/watch?v=YAOTCtW9v0M&feature=relatedassim"feature=relatedassim assim como o blog "A Astúcia de Ullises" está para Concerto in A Minor for Four Pianos and Strings, BMV 1065, de Bach http://www.youtube.com/watch?v=zg_IioVOnKY. Em ambas as músicas são assinaladas em seu decurso a tensão entre mudança e permanência, um tronco comum do qual se desprende uma bela e emaranhada ramificação.

 João Paulo Nascimento de Lucena
Bibliografia

TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL, 1983. 250 p.

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