quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Encontro com a parteira D. das Dores no VII Encontro Regional de Psicologia (EREP)

Participei da atividade “Vai chamar a parteira" na ilha do Massangano - Petrolina. Esta foi proposta por mim, pois além de eu conhecer o ofício de algumas parteiras da Região Metropolitana do Recife (RMR), eu também já havia conhecido a parteira da Ilha, D. Maria das Dores, conhecida como D. das Dores, quando fui em julho. Então propus uma roda de diálogo com a parteira junto com a tentativa de trocarmos o que estava acontecendo em cada região sobre a temática da gestação e parto, seja humanizado ou (des)humanizado.

Fui à casa de D. das Dores reafirmar nosso encontro e a encontrei um pouco abatida, pois a mesma estava passando uns dias difíceis de diabetes. Perguntei se ainda assim ela gostaria que houvesse nosso encontro e, aí, ela disse que sim, se mostrando bem feliz. E, eu falei: “Então tá, espero que a senhora fique boa rapidinho e amanhã a gente se encontra. Pode ser aqui na sua varandinha mesmo?!”. Foi muito bom revê-la, dá um cheiro e um abraço bem apertado...

No dia seguinte esperava (sempre expectativas J) pouquíssimas pessoas interessadas. E, aí as mulheres foram se juntando, e, depois alguns homens. Quando vi, tinha várias pessoas interessas, e a varandinha de D. das Dores não ia ser nem de perto suficiente. Ao longo do caminho, junto com outra amiga, agora a querida mulher e mãe, Martinha da BA, fomos pensando onde faríamos a roda. E, lembramos que na frente da casa de D. das Dores tinha um pezinho de árvore que dava pra gente se acomodar debaixo dele, sentado na terra! E, foi assim que aconteceu, ela já nos esperava, bonita, um pouco mais disposta e relatou que já havia pego muitas pessoas da ilha, o mais velho deve ter mais ou menos uns 50 anos, e já pegou muitos netos e bisnetos. Mas agora as mulheres só querem ir “lá pra rua”, se referindo aos hospitais/maternidades...

Contou também que agora não tem mais força de pegar menino e que já andou muito por aí, de dia ou de madrugada, pela ilha e por várias cidades ao redor. Tiramos algumas dúvidas, perguntamos se ela dava alguma coisa pra mulher beber, o que ela podia comer na hora do parto e ela disse: “Pode beber e comer tudo” (s.i.c.), como foram seus 10 partos – 8 deles foi sua mãe que pegou, e outros dois foram “na rua”, mas também de parto normal. “Quem me operou foi Deus, nenhum médico me abriu” (s.i.c.) – quando falava da cirurgia pra não ter mais filho. A parteira D. das Dores tem uma religiosidade forte, e falava que Deus a avisa quando o parto não é pra ela fazer e quando é. “Eu sei quando um parto é pra mim fazer, se não for, eu mando pra rua. Depois cai pra cima de mim toda a responsabilidade. Faço não. Teve dois partos que a mulher teve complicação, mas elas não me disseram que no filho anterior também tinham tido. Porque se eu soubesse, eu não fazia. Mas, graças a Deus nunca morreu nenhum menino nas minhas mãos” (s.i.c.). Quando perguntaram se ela já tinha feito algum aborto, ela disse: “Deus me livre. Das minhas mãos aqui só nasce vida” (s.i.c.). Quando conversamos sobre o cuidado do umbigo do bebê, ela disse que limpava bem direitinho e este demorava 7 dias pra cair. “Hoje, demora uns 15 dias e, ainda fica feio” (s.i.c.). D. das dores trouxe também que mulher de primeiro filho é muito escandalosa, e o bebê demora mais a sair. “Nessa hora não adianta chamar marido ou dar dengo, o marido serviu pra fazer, agora é com você” (s.i.c.). E assim, impulsionava a mulher a ser mais forte. Isto mostra que em algumas localidades o parto ainda é um evento feminino.

Em contrapartida, trouxe um pouco da situação da classe média e média-alta na RMR, no qual cada vez mais, os pais participam ativamente da gestação, do parto e do cuidado com o bebê, que o evento do parto, além de ser fisiológico, cultural, psicológico, este também pode ser sexual – com a participação do pai, com a troca de carinhos, etc – parto orgástico. Também falamos das cesáreas como um procedimento cirúrgico e não como um parto. E, como isto não é bom para a formação do vínculo entre mãe e bebê; Como a informação, as pesquisas podem ajudar as mulheres a se empoderarem de seu corpo, seu desejo, junto com o companheiro, se este existir.

Contudo, não podemos ser radicais a ponto de querer convencer todas as mulheres a desejarem um parto natural e/ou normal. E, se as mulheres incorporam este desejo a sua vida, temos que ter cuidado com as expectativas, quando se pensa em um único modelo, pois complicações reais (indicativas de cesáreas) podem existir e as mães ficarem se sentindo um lixo, pois não foram capazes de parir o seu filh@ [PSICOLOGIA], e o parto também ser um evento traumático, ou seja, um parto normal anormal. Além de que a cesárea foi criada para salvar vidas quando necessária. Então, se faz válido pensar que a cesárea não foi criada para ser um procedimento de rotina de mulheres modernas que querem ser mães ou fabricas de filhos. Este foi alguns dos pontos destacados nesta roda, que fluiu de maneira gostosamente natural.
gostaria assim, de agradecer imensamente a hospitalidade e carinho de D. das Dores e, d@s erepian@s que participaram.

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