segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A mangueira e suas descontinuidades


Sempre em transformação, os lugares têm essa coisa especial de funcionarem como ferramenta cognitiva na recordação de memórias, atuando sobre e por elas sendo alterados. Talvez isto se torne mais elucidativo com um exemplo.
Semana passada, fiz uma das minhas visitas àquele bairro que mais tarde seria para mim motivo concomitante de felicidade e tristeza. Fui morar na comunidade do Sítio do Cardoso – ou simplesmente o Cardoso para àqueles que com ele já tiveram algum tipo de laço, mesmo que tênue e breve - recém-nascido. Localizada na Rua Campos Sales, nossa casa era a última de uma série de outras pequenas que alinhadas à esquerda de quem no beco entrava, tinham por quintal-comum um mato alto e uma mangueira espada. Para quem não sabe sua localização, a Rua Campos Sales é a primeira à esquerda após o cruzamento da Rua José Osório com a Av. Caxangá, sentido Camaragibe.
Quando pequeno a árvore era enorme, e subir em seus galhos consistia num dos meus passatempos e desafios pessoais favoritos. Porém, hoje, e com a sucessão não regular de visitas, tenho a impressão de que ela estar cada vez menor. É como se sua imagem matriz fosse acrescentada por pinceladas de esquecimento, ao mesmo tempo em que dela se desvincula outra imagem: a de suas transformações ao longo do tempo. A experiência e o esquecimento, portanto, emergem como mediadores da relação lugar-memória, ora acrescentando ora retirando leves camadas desse quadro de tintas frescas que se chama memória.

João Paulo Nascimento de Lucena


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

II Seminário Nacional da Cultura dos Bois / Conferência Estadual dos Bois e Similares de PE


II SEMINÁRIO NACIONAL DA CULTURA DOS BOIS/ CONFERENCIA ESTADUAL DOS BOIS E SIMILARES DE PE

A Federação Cultural dos Bois e Similares do Estado de Pernambuco - FECBOIS/PE - Com apoio da Fundação de Cultura Cidade do Recife - FCCR, tem a honra de convidá-los a a participar do II SEMINÁRIO NACIONAL DA CULTURA DOS BOIS/ CONFERENCIA ESTADUAL DOS BOIS E SIMILARES DE PE, a ser realizado dia 26 de agosto/2011, no Plenarinho da Câmara de Vereadores da cidade do Recife.

08h00 - Cadastro/ inscrição
08h30 - Início dos trabalhos com Apresentação cultural e formação da mesa de abertura oficial
09h00 - A experiência da FECBOIS/PE - Aelson da Hora
09h30 - O papel da política pública para o movimento cultural de bois
- Fernando Duarte, Fundarpe/ Governo de PE
- Renato Lins, Secretario de Cultura do Recife
10h30 - PLENÁRIA
12h00 - Almoço
13h00 - Apresentação Cultural
13h30 - Mesa: debatendo dimensão simbólica/social
- Mário Ribeiro, Fundação de Cultura cidade do Recife
14h00 - Experiências das Ligas Municipais de Bois de:
Paudalho, Timbauba, Bonito, Limoeiro e Arcoverde
16h00 - Indicativos FECBOIS/PE
18h00 - Encerramento das atividades


Fonte:

Aelson Ferreira da Hora
Presidente da FECBOIS/PE e do Boi Faceiro
Conselheiro de Políticas Culturais do Recife
Colegiado do Conselho Nacional de Cultura - CNPC

segunda-feira, 22 de agosto de 2011


SELEÇÃO DE BOLSISTAS
PET/Conexões - Encontros Sociais
(Campus Recife)

O Programa de Educação Tutorial/Conexões de Saberes – Encontros Sociais: praticando o diálogo, construindo relações, vinculado à Pró-Reitoria para Assuntos Acadêmicos (PROACAD) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sob a tutoria da Profª Drª Maria Aparecida Lopes Nogueira, torna público o processo de seleção para o preenchimento de 5 (cinco) vagas para bolsistas do Programa no Campus Recife.

Poderão disputar as vagas os estudantes regularmente matriculados entre o 3º e o 5º período de quaisquer cursos de graduação da Universidade Federal de Pernambuco – Campus Recife, que atendam os seguintes requisitos:

·         Ser oriundo da rede pública de ensino ou bolsista em escola particular;
·         Ter disponibilidade para dedicar 20 (vinte) horas semanais às atividades do Programa;
·         Não ser bolsista de qualquer outro programa;
·         Não ter qualquer outro curso de graduação concluído.

As inscrições deverão ser feitas no Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros (NASEB), situado no andar térreo da Biblioteca Central, exclusivamente nos dias 1 e 2 de setembro (quinta e sexta-feira), pela manhã (9 às 12) ou pela tarde (14 às 17 horas).


No ato da inscrição os candidatos deverão apresentar os seguintes documentos:

      I.        Cópia do RG e do CPF;
    II.        Uma foto 3x4 (atual);
   III.        Comprovante de residência;
  IV.        Cópias do Comprovante de Matrícula na UFPE, obtidos através do SIG@ com assinatura da coordenação do curso;
   V.        Histórico escolar do curso de graduação;
  VI.        Currículo;
 VII.        Documento comprobatório de que é oriundo de escola pública ou bolsista em escola particular (caso o candidato seja do Programa BIA, será aceita a declaração do Programa).
EDITAL:



terça-feira, 2 de agosto de 2011

Andanças pelo Sertão

Há alguns meses uma conspiração do cosmos vem me chamando para lugares por onde nunca andei...brevemente contarei por onde começou esta história e os rumos que ela já está tomando a partir de agora.
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Uma de minhas raízes e a que me mais chama vem de um lugar muito conhecido pelas bandas daqui ... A princípio a família Alencar se instalou no Brasil na cidade de Exu, depois fomos conquistando várias outras cidades do nordeste. Meu querido avô, Raimundo Nunes de Castro Alencar, nasceu no Crato no Ceará e é pra lá que em breve seguirei viagem, pois sempre percebi o chamado de ir em busca de minhas raízes... Sugiro até que assistam um vídeo simples e muito gostoso de se ver, com o título muito do modesto: "'amília alencar vida e bravura" (segue o link) elaborado por um parente recem ''descoberto" na exposição de um mini-curso de fotografia - Imagens do feminismos no SOS Corpo - o qual participei com intuito de futuramente realizar uma exposição construída em conjunto com as parteiras que já conheci ao longo da minha pesquisa. Ele se chama Cincinato Alencar, e logo percebi que é inteiramente conectado com a sua história... com a minha história, com a nossa história, depois vocês vão entender o porque:
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Um outro caminho recentemente des-coberto, podemos dizer assim, vem desde outubro passado. que culminou no interesse de me ver envolvida com a organização do VII Encontro Regional de Psicologia N/NE (EREP) com o tema: PISANDO NA TERRA: NO COMPASSO DO SAMBA, OS SABERES SE ENCONTRAM. Este ano nossos encontramentos e encontrações acontecerão na ilha do Massangano, entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA) também em outubro, na beira do São Franscisco, repleta de energia positiva, sentimento de comunidade e festanças durante o ano inteiro, que inclusive nosso querido Ariano Suassuna é padrinho do Samba de Véio, uma das grandes manifestaçoes culturais da ilha (assisti um curta-metragem na ilha que ele aprece e depois confirmado pela diretora da escola da ilha, Mara, também mãe de uma nova amiga do Vale do São Franscisco, Samara Gabriele.
Tem sido uma experiência engrandecedora principalmente porque o que eu acredito, junto com o que tenho aprendido com as parteiras da tradição através da pesquisa, junto com meus amig@s erepian@s que participam da organização, estamos trilhando um caminho de colocar em prática, numa grande intensidade, a troca de saberes, práticas, conhecimentos, construções e desconstruções, e preocupações compartilhadas em relação ao cuidar... de si, do outro, da natureza, do todo!

E aí eu começo assim a trilhar meus caminhos rumo ao sertão. Este último fim de semana tive a oportunidade de ir a ilha do Massangano para a presencial do VII EREP e, lhes digo sinceramente que não fantasiei sobre como seria Petrolina ou Juazeiro até então conhecida apenas na música do meu parente distante Luís Gonzaga, muito menos fantasiei ou criei expectativas sobre como seria a ilha tão falada pelos meus amig@s, mas eu tinha certeza que eu iria encontrar uma parteira... nem que fosse apenas uma, eu iria encontrar... E encontrei.
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Tivemos muito pouco tempo para conversar, pois havia muitas atividades previstas para nós da organização (e que só pude participar no fim de semana), mas o tempo que eu, a parteira e duas amigas erepianas tivemos foi tão belo, mágico e inacreditavelemente real. Nossa já amada e respeitada parteira da tradição da ilha do Massangano (PE) se chama Maria das Dores, uma senhorinha muito linda, forte, sagaz e sábia. Com ela compartilhei saberes e práticas já conhecidas e descobri outras tantas práticas des-conhecidas para o trabalho de parto, o resguardo, o trato com umbigo do bebê e o cuidado da placenta sair toda, sabendo que "A mulher só pari depois que a placenta sai".
Hoje, ela diz se sentir velha e cansada, mas que nunca recusaria atender uma mulher parindo... D. Maria, como eu a chamei, mas ela é conhecida como Das Dores... nos disse que tem muito menino na ilha que foi ela que pegou, e que já tem menino que é avô, e que não lembra de uma rua da ilha que já não tenha pego menino. D. Maria das Dores também nos contou que já foi chamada várias vezes por marido das mulheres de madrugada, para sair de barquinho no escuro pelas localidades vizinhas para partejar, mas não tinha medo. Quando perguntei como ela tinha aprendido, ela disse que aprendeu com sua mãe, e que esta aprendeu com sua avó... Nos disse que sua mãe sempre lhe mostrava como fazer, levando-a junto para atender os partos.
D. Maria sempre foi muito curiosa, mas tinha medo: "Eu moça, tinha medo que se os homens me vissem ali, pegando menino, aí não iam me querer, eu não ia casar". Depois ela retomou que isso não fora um problema, ela se casou teve 10 filhos e criou mais uma. Dos partos que teve, por duas vezes precisou ir ao hospital, um deles foi o segundo filho. E, até hoje ela lembra que foi um sofrimento estar naquele lugar, sentindo na pele o desrespeito por parte de alguns profissionais. Conversamos ainda se há alguma mulher na ilha que seja sua aprendiz de parteira. Meio tristonha, D. Maria nos disse que ninguém se interessava mais em ser parteira lá. E, apesar da sabedoria medicinal popular ser bastante forte na ilha, a maioria das gestantes querem ter seu filho no hospital.
Conversar um pouquinho com D. Maria das Dores foi um dos momentos mais emocionantes e prazerosos que tive na ilha, como conhecer pessoas maravilhosas, como me banhar nas águas (geladas!!) do São Franscisco, e tenho certeza que nós ainda iremos nos encontrar e TROCAR mais experiências... pois como havia falado anteriormente a respeito da consciência do cuidado de si e do que está a sua volta, espera-se que essa construção não dure apenas por um momento nem para mim, nem para os participantes estudantes e profissionais e nem para os participantes moradores da ilha, mas o que estamos construindo cresça, ressoe e flua cada vez mais nas nossas vidas.

Como já me estendi muito gostaria de fechar sonoramente com a música "Vida de viajante", do meu parente - não só por um frasco de sangue, mas por tudo que ele representou e representa em minha vida e na vida dos nordestinos (estou toda orgulhosa:) ), o grande Luís Gonzaga... na expectativa de que logo farei o caminho de volta para casa...

Minha vida é andar
Por esse país / Pra ver se um dia / Descanso feliz / Guardando as recordações / Das terras onde passei / Andando pelos sertões / E dos amigos que lá deixei / Chuva e sol / Poeira e carvão / Longe de casa / Sigo o roteiro / Mais uma estação / E a saudade no coração / Minha vida é andar... / Mar e terra / Inverno e verão / Mostra o sorriso / Mostra a alegria / Mas eu mesmo não / E a saudade no coração / Minha vida é andar...

confiram estes links tbm:


muito grata,
Alessandra Alencar