terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Aconteceu: Seminário Nacional de Parteiras tradicionais para a erradicação do sub-registro

O projeto é uma parceria entre a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Talher Nacional, Cais do Parto e Cáritas Brasileira. O projeto tem uma iniciativa muito válida, pois compreende as Parteiras Tradicionais como Agentes Sociais, tirando um pouco o foco da Saúde e abrangendo para os Direitos Humanos, o que ao meu ver é um passo importante para a compreensão de que as Parteiras Tradicionais realizam efetivamente um trabalho holístico e que podem e devem ser valorizadas como partícipes na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
Especificamente o projeto visa contar com o apoio das Parteiras Tradicionais para garantir um dos primeiros direitos do ser humano na nossa socidade, o de ser um/a cidadão/ã, através da efetivação do Registro civil de Nascimento. No Brasil a taxa do sub-registro civil ainda é muito elevada e as as Paretiras sabem que são e onde estão grande parte dessas crianças e adultos sem Registro

Entre as atividades ressaltamos: a presença de parteiras do norte-nordeste do Brasil. Também houve discussões sobre a importância de se fundar e fortalecer as associações de parteiras em cada estado, visto que são elas que fazem a intermediação entre as parteiras da tradição e hospitalares e o poder municipal, estadual e federal. É por meio destas, que as parteiras podem ser convidadas a participar de capacitações; oferecer palestras em eventos de pequeno e grande porte, divulgando a assistência ao parto humanizado e domiciliar.
Já em outro momento do evento, as parteiras que são envolvidas com práticas religiosas demonstraram seus dons. Como exemplo disto, tivemos a venda de plantas medicinais da Amazônia, massagens no corpo e nos pés, Reik coletivo, orações e rezas pra quem quisessem.
Foi um momento bastante interessante porque as parteiras puderam desfrutar, e também aprender.

Daniele Siqueira
Parteira e coordenadora do grupo GESTAR

Alessandra Alencar
bolsista PIBIC NASEB UFPE

quarta-feira, 15 de setembro de 2010



Meus queridos,

É com alegria que informamos o Lançamento do nosso livro "O Bom Pensamento: contadores, intérpretes e narradores".

O lançamento ocorrerá no âmbito do Congresso Nordestino de Extensão. Será no dia 16 de setembro às 17h30 no hall do Centro de Ensino de Graduação- CEGOE - UFRPE

Beijos das organizadoras,

Cida Nogueira, Sandra Simone e Socorro Figueiredo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

RECONSTRUÇÕES DA CIÊNCIA PRIMEIRA


Esta semana, no dia 12 de Agosto de 2010, houve a defesa de monografia de Lucrécia Luanda referente às parteiras no 12° andar do CFCH, a qual foi elogiada e indicada para publicação. Foi um momento muito especial, onde além de processar novas informações, ao final da defesa conversamos a respeito do grupo de estudos sobre parto humanizado que terá suas atividades iniciadas dentre em breve no Núcleo Ariano Suassuna de Estudos Brasileiros, localizado na Biblioteca Central da UFPE. Tudo indica que será as sextas-feiras a partir das 16:00h. E todas e todos estão convidados a participar.
Nesta sexta-feira, dia 20 de Agosto, a parteira escolhida para a minha iniciação científica, D. Prazeres, fará uma palestra e será homenageada no Museu do Estado  de Pernambuco, realizado pelo IPHAN.

Alessandra  Alencar - estudante da graduação de Psicologia da UFPE, trabalhando atualmente com a pesquisa "O Encontro das Religiosidades Étnicas"

domingo, 8 de agosto de 2010

Convite:

Contamos com a presença de todos no lançamento do livro: "Luna, Caos e Lama" em homenagem ao GRANDE POETA - ERICKSON LUNA.
  
Data: 28 de agosto (sábado)
LOCAL: MERCADO DA BOA VISTA
10h
Lançamento Coletânea Luna, Caos e Lama (Ed. UFPE)
Org.: Maria Aparecida Nogueira e Maria das Graças Vanderlei da Costa



sexta-feira, 4 de junho de 2010

A Memória como idioma de larvas incendiadas

A memória é constantemente inventada e reinventada, construída e reconstruída a partir de laços estabelecidos com os acontecimentos, que mudam constantemente, delineando nessas mudanças cartografias sempre dispostas a ampliar seus significados. A memória é, portanto, reconstrução do passado; um olhar para o passado a partir do hoje, por isso é cravada de subjetividade.
Na memória superpõem-se presente, passado e futura; flui o Kairos, tempo mítico, a-causal. Possui margens, amarras e limites tênues; é solta, atrela-se ao desejo. Atravessada por contradições, pertence ao reino da desrazão, explicitado num amplo leque de marcas que teimam em conferir especificidades aos indivíduos e aos grupos. Fomentada por uma lógica desconhecida, escapa ao controle, insinua-se, esconde-se. Ora deixa-se desvelar por meio da vontade do indivíduo, ora é desencadeada por estímulos desconhecidos.
A obstinada conservação de práticas, vivências, experiências que forjam ricos repertórios de saberes, cuja transmissão ocorre – ainda – por meio da oralidade, constitui um forte indício para que se compreenda as histórias de grupos, que têm se mantido vivos e grávidos de futuro; pois tais repertórios forjam sentidos que viabilizam suas existências. Por isso seus integrantes estarão sempre mobilizados para narrar, contar e recontar ad infinitum suas memórias; nelas subjazem a força de um simbolismo que – misteriosamente, mesmo nesses tempos atuais, quando é difícil lutar contra a velocidade e os apelos à mudança  - é capaz de manter e transmitir práxis cognitivas que fomentam a tolerância, a construção de laços sociais mais próximos e a solidariedade entre os povos.
Embora a Tradição se queira perene, absoluta, nada é definitivo. Tudo o que morreu, continua e pode voltar, pois a recursividade é uma característica geral da Cultura entendida como Tradição. Os conteúdos retornados da memória expressam mesmidade e outridade; apresentam pequenas modificações, rupturas, podem acrescentar ou retirar algo. Trata-se de um processo: mudar para permanecer. Nesse sentido, a memória pode ser entendida como o centro da Tradição, que, por sua vez, não se distancia do que lhe é contrário.
A memória é ativa. Aprender é lembrar, lembrar é aprender. Ela pode remontar a épocas distantes, pois, de acordo o mito narrado por Platão, “todas as almas têm sede de saber e já a tinham nas vidas pregressas. Acontece que os deuses, cruéis em sua sabedoria, não se agradavam de ver que se desse um copo d’água para a alma sedenta e sôfrega antes de ela fazer um sacrifício, ao menos o sacrifício da espera. O conhecimento exige a purificação da paciência. As almas deveriam esperar um tanto para que o desejo se interiorizasse e se espiritualizasse dentro delas; só assim, o desejo se transformaria em conhecimento, pois entre um e outro ocorreria o tempo necessário à memória. A água oferecida pelos deuses era tirada de um rio chamado Lethe, rio do esquecimento. Se as almas, arrastadas pela sede do desejo sem freio, bebessem a água do Lethe, sem a pausa do sacrifício, ao invés de aprender, cairiam na letargia, que é um estado de sonolência, de embrutecimento, de inconsciência. Voltariam aos seus instintos de brutos e, saciados e entorpecidos muito rapidamente, seriam incapazes de dar o salto que leva ao conhecimento através da memória. Mas aquelas almas que esperassem e não tragassem sôfregas a água do Lethe, alcançariam o não-esquecimento, o des-ocultamento”.
Os guardiões da memória dos grupos – aqueles que bebem da água do Lethe com parcimônia - expressam a idéia de Tradição como a soma de saberes acumulados pela coletividade, a partir de acontecimentos e princípios fundadores, uma visão de mundo e forma específica de presença no mundo. A Tradição existe no presente, por isso constitui-se na razão de ser e existir de seus integrantes. Ao escolhido, aquele que detém o conhecimento último, é revelada a ordem do mundo e dos homens. Sua autoridade é adquirida progressivamente na vida, na medida de suas descobertas e revelações, tendo como resultante a intervenção legítima na ordem do grupo.
O escolhido tem a missão de garantir a conservação e memorização do grupo e de permitir-lhe ser o que já foi. Esse duplo enfoque, segundo Balandier, permite que a Tradição se insira “em uma história onde o passado se prolonga no presente, onde o presente chama o passado; história desconcertante, porque negadora do seu próprio movimento e refratária à novidade. Quer exprimir na permanência a verdade, a da ordem do mundo desde sua origem. [...] Neste sentido, a recusa da modernidade é primeiro a recusa do novo, do movimento e do efêmero, considerados os assassinos da tradição, dela retirando qualquer chance de renascimento” (1997:93).
Mas ordem e desordem são indissociáveis. Assim, o inverso da ordem não é seu desmantelamento; ao contrário, pode servir para reforçá-la ou ser um de seus elementos constitutivos sob um novo aspecto. Faz-se, então, a ordem com a desordem, o sacrifício faz a vida com a morte.
Ressalta-se o fato de que todas as sociedades reservam um lugar para a desordem, mesmo temendo-a; compõem-se, de alguma forma, com ela, o que lhes possibilita transformá-la em fator de ordem, em instrumento de um trabalho com efeitos positivos. A passagem do tempo e o movimento das forças sociais traçam, incessantemente, os caminhos da desordem. Esta é percebida como uma energia ainda selvagem que convém expulsar realmente (utilizando uma vítima expiatória) e imaginariamente, e que é preciso domesticar ou converter fazendo-a trabalhar com finalidades positivas. Tal domesticação ou conversão se efetiva através de ritualizações, que imprimem continuidade em vez do caos e acenam para o desejo da ordem.
Percorrer incessantemente o trajeto que oscila entre o antigo e o novo, o outro e o mesmo, o real e o imaginário, retroalimenta uma memória que acena para novas maneiras de vivenciar, reinventar, ressignificar discursos e práticas. Um potencial imaginativo, misto de permanência e ruptura, que sempre provoca e renova o espanto de todos, na medida que fornece subsídios para a compreensão mais ampla da condição humana.

Maria Aparecida Lopes Nogueira
(PPGA-UFPE)